A Influência Literária no Metal

Desde sua origem nos anos 60/70, o metal tem explorado uma vasta gama de influências literárias, que contribuíram significativamente para sua diversidade e profundidade, tanto em termos de inspiração para o conteúdo lírico quanto para criação da atmosfera musical. O metal sempre teve teor de crítica social, abordando temáticas como guerra, conflitos morais e questões existenciais. A escuridão percebida do gênero é frequentemente mal compreendida. Afinal, muitos artistas estão empenhados em refletir sobre assuntos de preocupação mundial. A banda Sepultura lançou em 2006, o álbum “Dante XXI“, baseado no poema épico “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, relacionando a temática da obra com a questão da corrupção política e religiosa atual. A banda Metallica baseou sua música “One” no livro “Johnny Vai à Guerra” de Dalton Trumbo, o qual critica a desumanização dos soldados, retratando o impacto dos horrores da guerra na vida do personagem principal.

Muitas bandas do gênero também são fortemente influenciadas por elementos de fantasia, ficção científica e narrativa épica presentes na literatura. Alguns exemplos são: a banda de power metal Blind Guardian, que produziu o álbum “Nightfall in Middle Earth”, baseado no livro que retrata os dias antigos do universo mitológico criado por Tolkien, “O Silmarillion”; a banda de heavy metal Iron maiden com suas músicas “To Tame a Land“, baseada na série de livros Duna de Frank Herbert, “Out of the Silent Planet”, baseada na “Trilogia Cósmica” de C.S. Lewis e “Brave New World”, baseada na distopia “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; e a banda Mastodon, que lançou o álbum “Leviathan” baseado na obra “Moby Dick” de Herman Melville. Esta relação enriquece a experiência de seus apreciadores, e pode proporcionar a eles um novo meio para interpretar obras literárias influentes.

O gênero também tem sua literatura própria, e é muito competente em desenvolver suas próprias narrativas e reflexões. Cito como exemplos, a música “Holy Wars… The Punishment Due”, da banda Megadeth, que critica como questões religiosas podem ser utilizadas como justificativa para a violência e a opressão; o álbum “Temple of Shadows” da banda Angra, que conta a saga fictícia de um cavaleiro participando da Primeira Cruzada, o qual passa por conflitos e questionamentos existenciais e religiosos até sua redenção; a música de viking metal “One Rode To Asa Bay” da banda Bathory, que retrata a história da agressiva imposição do cristianismo na Escandinávia; e o álbum de estreia do projeto musical Avantasia, “The Metal Opera Pt.I“, que narra a aventura épica do personagem Gabriel, um jovem noviço acusado injustamente de heresia pela Inquisição. Ele descobre um mundo paralelo chamado Avantasia, onde se alia a figuras mágicas e poderosas para enfrentar forças malignas que ameaçam tanto o mundo fantástico quanto o seu próprio.

A ligação entre metal e literatura pode ser tão rica que, em 2013, a disciplina “Introduction to Literature: Heavy Metal as a Literary Genre” (Introdução à Literatura: Heavy Metal como Gênero Literário), foi criada pelo professor Martin Jacobsen na West Texas A&M University. Esta aula inovadora explora a interseção entre essas duas temáticas, permitindo que os alunos desenvolvam habilidades de análise crítica examinando a estrutura frasal das letras das músicas e suas conexões com temas literários tradicionais. Para um contexto mais amplo, a história do metal ao longo dos anos também é discutida. Paralelo à isso, a existência da “The International Society for Metal Music Studies” (que se dedica ao estudo do metal em nível acadêmico), com bibliografia diversa reunida em sua plataforma, mostra como este gênero musical pode ser relevante a ser estudado não apenas na literatura, mas de forma interdisciplinar.

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