Como o idealismo heroico da saga “Missão Impossível” mascara o real vilão da natureza humana: O Capitalismo

A análise destaca que os filmes da saga Missão Impossível retratam Ethan Hunt como um "herói solitário", um ideal do sistema capitalista que luta contra inimigos em nome de um bem maior. A trama foca em ação e emoção, evitando reflexões sobre questões sociais e econômicas, como o sistema. Embora mostrem corrupção e motivação por dinheiro, os filmes não questionam profundamente o sistema econômico que alimenta esses conflitos. A narrativa enfatiza a solução individualista para problemas globais, sem uma crítica ao capitalismo, mantendo-o intacto e operando nos bastidores. Dessa forma, os filmes oferecem escapismo e entretenimento, enquanto omitem uma análise crítica das condições estruturais que geram os conflitos.

Os filmes da saga de “Missão Impossível” são marcados por cenas de ação energizantes e cheias de adrenalina por uma equipe de agentes secretos que participam de uma agência ficcional do governo norte americano, Força Missão Impossível, onde o personagem central, Ethan Hunt, é abordado com um indivíduo que se mostra fervente por sua causa, acredita fielmente no sistema e se mostra incorruptível.

A representação perfeita de um “herói solitário”, uma ferramenta criada pelo sistema capitalista que luta contra inimigos imensos em nome de um bem maior. Essa figura idealizada reforça a crença de que a salvação virá através de indivíduos corajosos, e não por meio de mudanças estruturais na sociedade, algo que é frequentemente abordado nos filmes desse gênero e nos filmes norte-americanos em geral, concedendo ênfase no recaimento sobre o espetáculo visual e a moralidade individual dos heróis.

Tom Cruise em Missão Impossível: Nação Secreta, 2015.

O gênero de ação, onde a saga se encaixa, especialmente nos Estados Unidos, tende a ser um espaço para uma válvula de escape, ou seja, onde o público busca diversão e adrenalina. As produções de ação muitas vezes evitam reflexões profundas sobre questões sociais e econômicas como o capitalismo para manter o foco na emoção e no entretenimento puro, com a consequência da alienação.

No filme “Missão Impossível: Nação Secreta” (2015) o então secretário afirma para o primeiro ministro que “Hunt é manifestação do destino”, o personagem é tão focado em derrotar os inimigos em sua volta, que se esquece o verdadeiro vilão, aquele que criou todas essas ramificações de vilania, ele acredita com tanto fervor no sistema que deixa de lado que o real problema é os estabelecimentos de poder na sociedade capitalista, ou seja, a sociedade capitalista como um todo. O capitalismo não é diretamente questionado, o foco está em impedir os vilões ou garantir que as ameaças sejam neutralizadas. Isso pode ser interpretado como uma forma de manter o estado atual, onde o capitalismo e suas dinâmicas de poder continuam a operar nos bastidores. Embora os filmes mostrem corrupção ou motivação por dinheiro, isso raramente é abordado de maneira mais profunda ou como parte de uma crítica ao próprio sistema econômico.

A “autocensura” ou omissão de críticas diretas ao sistema capitalista nessas produções, exibem dois lados de uma mesma moeda, além de levar a alienação do espectadores que por ventura irão assistir aos filmes em busca do já falado escapismo, também, felizmente, é uma forma de produzir aos indivíduos, ás vezes a força, enxergando de fato o que há de errado na sociedade, na esperança que possam parar de procurar um “demônio”.

Tom Cruise em Missão Impossível: Efeito Fallout, 2018.


O idealismo heroico de Ethan Hunt para com o mundo, faz o acreditar que suas ações são justificáveis para o bem maior. O secretário afirma em “Missão Impossível: Efeito Fallout” (2018) que “você não sabe escolher entre a morte de milhões e a morte de uma pessoa” refere ao dilema moral enfrentado pelo protagonista durante a trama. Ele se vê obrigado a fazer escolhas difíceis, onde precisa decidir entre sacrificar uma vida individual ou salvar milhões de outra. O ideais de sacrifícios e lealdade frequentemente pregados podem ser usados para reforçar uma visão individualista, onde a solução para os problemas globais depende da ação de indivíduos heroicos, como já abordado, mas ao invés de uma crítica coletiva ao sistema econômico, que é o verdadeiro causador do sofrimento. Isso pode desviar a atenção de como o sistema capitalista muitas vezes fomenta os conflitos que são apresentados no filme, ou como ele alimenta a perpetuação das desigualdades sociais e econômicas. O filmes também retratam uma aceitação implícita desse sistema. Em vez de abordar diretamente questões críticas sobre o capitalismo, eles simplesmente apresentam os efeitos desse sistema como naturais ou inevitáveis.

As produções focam apenas em um indivíduo heroico que deixa à margem da trama uma reflexão sobre como evitar que as situações de risco surjam em primeiro lugar. Uma transformação profunda das condições que geram esses conflitos, como a crítica ao capitalismo, que não se faz presente da narrativa, deixando o sistema intacto e impune de seus erros, oferecendo uma visão simplificada de como a ordem mundial pode ser restaurada por meio da ação de um herói e não uma mudança em conjunto. A salvação global, então, é frequentemente apresentada como a vitória de indivíduos excepcionais dentro de um sistema que, embora possa ser falho, não é realmente colocado à prova.

A seguir, acesse esses links a respeito de críticas feitas ao filme “Missão Impossível: Nação Secreta” e ao filme “Missão Impossível: Efeito Fallout”, respectivamente:

Crítica | Missão: Impossível – Nação Secreta – Plano Crítico

Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout – Plano Crítico

maiagenya
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