A democratização do acesso ao conhecimento: o papel das plataformas digitais e do Estudo de Usuários da Informação

O texto destaca o papel das plataformas digitais na democratização do conhecimento, ressaltando a importância de habilidades culturais e educativas para um acesso efetivo. As bibliotecas, por meio do Estudo de Usuários da Informação, são essenciais nessa mediação. O conceito limitado de "usuário" e desafios como desigualdade digital são discutidos, reforçando a necessidade de ações inclusivas e colaborativas para ampliar o impacto do acesso ao conhecimento.

A Internet é hoje o tecido das nossas vidas. Não é o futuro. É o presente.”
Manuel Castells

A democratização do acesso ao conhecimento é um dos maiores desafios e também oportunidades dos últimos tempos. Vivemos em uma era onde as plataformas digitais têm o poder de quebrar barreiras geográficas, econômicas e sociais, permitindo que o conhecimento se espalhe de maneira mais inclusiva. No entanto, para que essa democratização seja realmente efetiva, é necessário mais do que apenas disponibilizar conteúdos na web: é necessário também compreender as necessidades e os comportamentos dos usuários destas informações. É aí que entra o papel fundamental dos bibliotecários e do Estudo de Usuários da Informação.


A importância da democratização do acesso ao conhecimento

No mundo digital, as plataformas oferecem uma variedade de recursos, desde e-books e artigos acadêmicos até cursos online e vídeos educativos. O que torna essas plataformas tão poderosas é a possibilidade de conexão entre pessoas de diferentes partes do mundo e o acesso ao conhecimento de forma rápida e prática. Elas possibilitam que indivíduos de qualquer lugar, independentemente da sua condição econômica ou geográfica, tenham acesso a informações que antes eram restritas a poucos.

Entretanto, como apontam estudiosos como Manuel Castells, Pierre Lévy e Henry Jenkins, não basta apenas ter o conteúdo disponível: a verdadeira democratização do conhecimento exige que todos possam não apenas acessar as informações, mas também utilizá-las de maneira eficaz e crítica.

Segundo Castells ([20–?]):

[…] a conectividade como elemento de divisão social está a diminuir rapidamente. Mas, o que se observa nestas pessoas que estão conectadas, sobretudo estudantes e crianças, é o aparecimento de um segundo elemento de divisão social muito mais importante do que a conectividade técnica: a capacidade educativa e cultural para utilizar a Internet, uma vez que toda a informação e o conhecimento, ou seja, o conhecimento codificado se encontra na rede.

Este alerta destaca que o verdadeiro acesso ao conhecimento vai além de estar conectado. É imprescindível que as pessoas desenvolvam competências culturais e educacionais que os ajudem a navegar, interpretar e aplicar os vários conteúdos disponíveis na rede. E é nesse ponto que o papel das bibliotecas se torna crucial, tanto na mediação quanto na capacitação dos usuários.


O papel das bibliotecas e o Estudo de Usuários da Informação

Para garantir que as plataformas digitais cumpram sua função de democratizar o acesso ao conhecimento, é imprescindível que as bibliotecas, como mediadoras desse processo, conheçam profundamente seu público. O Estudo de Usuários da Informação permite que os bibliotecários compreendam as necessidades reais dos usuários: como eles buscam, consomem e utilizam as informações disponíveis.

Entretanto, é importante refletir criticamente sobre o que se entende por “usuário”. Segundo Tanus, Berti e Rocha (2022):

[…] a figura do usuário é amplamente utilizada nos estudos e na produção científica da Biblioteconomia e da Ciência da Informação; todavia este termo – usuário – demonstra-se insuficiente do ponto de vista conceitual e dentro de uma epistemologia social. Isto porque o entendimento do que seja o termo usuário passa, muitas das vezes, pelo seu uso reduzido, sendo entendido como aquele que faz uso de uma informação ou sistema, logo vinculado a uma certa utilidade diminuída da vida cotidiana.

Essa visão crítica ressalta que os bibliotecários precisam ir além do conceito funcional de usuário como mero consumidor de sistemas de informação. É necessário compreender os indivíduos em sua complexidade social, cultural e educativa, abordando suas demandas de forma mais humana e ampla. Esse entendimento possibilita que as bibliotecas adaptem seus serviços, escolham as melhores plataformas e ofereçam treinamentos personalizados para maximizar o impacto positivo do acesso à informação.

Além disso, os bibliotecários desempenham um papel educativo importante, ajudando os usuários a desenvolver habilidades digitais e a distinguir fontes confiáveis de informações, bem como orientando-os sobre como navegar em meio aos vários dados disponíveis na internet. Isso é especialmente relevante quando pensamos em grupos marginalizados ou em situações de desigualdade de acesso, como em áreas rurais ou em populações com baixos recursos tecnológicos.


Desafios e oportunidades

Claro, a democratização do acesso ao conhecimento ainda enfrenta desafios significativos. A desigualdade no acesso à tecnologia e à internet de qualidade é uma das maiores barreiras. Embora as plataformas digitais proporcionem grandes avanços, sem acesso à infraestrutura necessária, muitas pessoas acabam ficando de fora dessa revolução digital.

Outro desafio é o que muitos teóricos chamam de “superinformação” ou “infoxicação”. Com o imenso volume de informações circulando online, é cada vez mais difícil para os usuários encontrar o que realmente importa. O Estudo de Usuários da Informação ajuda a identificar as necessidades específicas de cada grupo e a curar conteúdos relevantes, reduzindo a sobrecarga informativa.

No entanto, esses desafios também abrem espaço para novas oportunidades. Bibliotecas podem se tornar hubs de conhecimento, oferecendo acesso à internet, equipamentos e cursos de alfabetização digital, enquanto mediadoras do acesso a plataformas de ensino, pesquisa e entretenimento cultural. Isso tudo contribui para que o conhecimento se torne um bem de fato acessível a todos.


Rumo a uma jornada inclusiva e colaborativa

A democratização do acesso ao conhecimento não é uma questão simples, mas com o uso inteligente das plataformas digitais e um trabalho contínuo de mapeamento das necessidades dos usuários, é possível torná-la uma realidade. O Estudo de Usuários da Informação é uma ferramenta fundamental neste processo, permitindo que as bibliotecas e outras instituições garantam que as pessoas não apenas tenham acesso ao conhecimento, mas também o utilizem de forma significativa.

O futuro do conhecimento é, sem dúvidas, também digital e colaborativo, mas para que seja verdadeiramente inclusivo, é necessário que todos, sem exceção, tenham as mesmas oportunidades de aprender e se desenvolver. Ao colocar as necessidades dos usuários no cerne dessa transformação, podemos construir um mundo onde o conhecimento é compartilhado e acessível para todos.


Leitura complementar.

Caio Gustavo Campos
Caio Gustavo Campos
Caio Gustavo Campos
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