Berserk, obra criada pelo falecido Kentaro Miura voltado para o gênero Dark Fantasy possuindo inspirações de outras obras na hora de sua criação, por exemplo, ‘Rosa de Versalhes’ que foi um dos adventos que moldaram de certa forma a narrativa da história à partir do volume 3, isso foi fundamental para transacionar como o personagem principal – Guts – lida com tudo ao seu redor.
A personalidade conturbada e violenta deriva-se de vários eventos traumáticos em sua vida, mas diante deste fator apenas um em particular submeteu-se para moldar os objetivos do personagem. O Eclipse, evento que trouxe a ruina total do Bando do Falcão, grupo ao qual fazia parte o nosso protagonista, causando mais feridas e angústias. Após este episódio foi posto o objetivo de vingar-se daquele que lhe causou todo mal, um propósito movido pelo próprio ódio que mostrou as principais falhas de Guts, revelando-se a Síndrome de Berserk, esta condição proposta por Armond Simon aborda o alto pico de ódio e com amnesia durante as ações do próprio, uma fúria que despedaça seus inimigos e causa terror há quem vê.
Este ódio é realmente fruto da sua própria essência ou apenas outro sentimento disfarçado para encobrir as perdas? – após um período em busca do seu objetivo, Guts retorna para a sua ‘casa’ em decorrência de suas ações e ao entrar em uma conversa com Godo, o Ferreiro, após vê a escuridão que acompanhava o guerreiro profere uma frase que chega a levar os questionamentos do próprio por um breve momento.
Godo diz, “O ódio é apenas um lugar para onde vai o homem que não consegue suportar a tristeza”, observa-se que muitas vezes o seres humanos buscam direcionar as suas angústias para um mecanismo de autodefesa que busca afastar as pessoas, buscar sentido em algo que não tem e até mesmo o desejo de machucar alguém que foi responsável pela sua dor, o que na verdade provoca apenas o afastamento daquelas pessoas em sua volta.
Esta autodefesa é para evitar mostrar o quanto somos fracos e temos medo de demostrar sentimentos, o que se correlaciona ao nosso Guts, o medo de mostrar que foi afetado pelos eventos e de ficar refletindo o seus próprios pensamentos, em vez de compartilhar aquilo com quem a gente ama, só leva a um fim eminente sem alcançar o seus objetivos.
Enfrentar uma dor momentânea o quanto antes pode levar a causar sofrimento, mas evita de continuar nesse ciclo culposo e vicioso. Ao decorrer de sua jornada, Guts, percebe que seus desejos não envolve somente a si próprio, mas também outras pessoas e após um breve período de “abandonar” a sua vingança, ouve a percepção daquelas palavras que foram ditas. Percorrer um caminho que traz dor e cansaço já não é mais ideal para quem continua sem pensar nos outros, tanto nós, seres humanos quanto Guts. E ao percebemos isso aceitamos finalmente ajuda daqueles que escolhem continuar ao nosso lado mesmo após ser afastado pela rigidez ríspida, pois, não queremos continuar a machucar e ficar cansado tanto fisicamente quanto mentalmente.
A tristeza é o nosso refúgio mais sincero e aberto, não é feito para nos criticar e nos persuadir a ser pior, é apenas um lugar para onde vamos nos refugiar de vez em quando, só percebemos o que de fato tem valor tarde demais, devemos enfrentar esses objetivos sem buscar algo neste caminho que envolva se sacrificar no meio.
Usamos ela como um elo de ligação, sempre vamos atribuir um desejo, um momento ou até mesmo outro sentimento para se aceitar o que aconteceu. Não podemos descartar e viver sem a tristeza, por mais que possa parecer irreal e possuir diversos pontos negativos que surgem ao abraçar este sentimento, ela é fundamental para nós, seres humanos, usamos principalmente como forma desabafar e isso alivia totalmente a tensão.
Nota-se que se formos por essa via, ir atras desse ‘objetivo’, só vamos perder e fracassar, devemos partilhar o que nos causaram e encontrar uma solução para conviver, aliás, não temos inimigos e nem precisamos ter. Observa-se que é necessário perceber essa mudança de trajetória e de visão o quanto antes, se não vamos nos embebedar com sonhos e futuros perdidos, pois, “Não há paraíso para onde fugir”.
Berserk não é apenas uma leitura que surge para o entretenimento juvenil que aborda sobre a aventura de um espadachim em busca de sua vingança, com painéis viscerais, temas pesados e uma arte visual linda. Berserk é uma lição em forma de páginas que lhe ensina o preço de afundar-se em ódio, também é uma jornada para aceitar a ser uma pessoa melhor e principalmente uma forma de demostrar a gratidão a si mesmo e as pessoas em sua volta.
- Berserk: Uma visão sobre o ódio - 20/12/2024