A iniciativa nasceu a partir do modelo Hexágono de Inovação Pública (HIP), desenvolvido por Raúl Oliván, especialista em Inovação Pública e Social, e por sua equipe do Laboratório de Aragão [Governo] Aberto (LAAAB), na Espanha. Lançado oficialmente durante a XXVII Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, o modelo HIP foi criado para promover a inovação sistêmica em organizações públicas e privadas, com base em seis vetores: aberto (open), transversal (trans), colaborativo (co), ágil (fast), experimental (proto) e tecnológico (tech).
Com o apoio da Dirección General del Libro, del Cómic y de la Lectura (Diretoria Geral do Livro, do Quadrinho e da Leitura) e da Subdirección General de Coordinación Bibliotecaria (Subdireção Geral de Coordenação Bibliotecária), esse conceito foi adaptado para o contexto das bibliotecas, resultando nas Bibliotecas Hexagonais. O objetivo é claro: “[…] acelerar a transição entre instituições tradicionais, hierárquicas e compartimentadas, para organizações abertas, em rede, flexíveis e democráticas” (Olivián; Piñero, 2021, tradução própria).
À vista disso, são disponibilizadas ferramentas de autodiagnóstico, uma para avaliar as habilidades dos profissionais e outra para medir o desempenho das bibliotecas nos seis vetores, acompanhadas de um kit com 18 metodologias práticas para implementar as melhorias necessárias.
Os seis vetores do Hexágono de Inovação Pública (HIP) aplicados às bibliotecas
A Nesta, agência de inovação social do Reino Unido dedicada a projetar, testar e expandir soluções para os principais desafios sociais, desenvolveu um panorama de abordagens de inovação que reúne 105 metodologias. Foi com base na análise dessas metodologias que os vetores do Modelo Hexagonal foram criados.
Open (Abrir): abrir organizações, ampliar redes de colaboradores, ter conversas bidirecionais, conectar a organização às demandas da sociedade.
Trans (Misturar): trabalhar transversalmente, fortalecer equipes interdisciplinares, misturar e hibridizar ideias, superar gargalos de hierarquia.
Fast (Agilizar): introduzir dinâmicas ágeis na organização, reduzir distâncias entre os atores, cuidar do tempo dedicado às conversas.
Proto (Prototipar): trabalho focado na produção de protótipos, pilotos ou produtos mínimos, reduzir o nível de abstração, alinhar visões e inspirar mudanças com a cultura do design.
Co (Colaborar): promover a colaboração e a cooperação, a cocriação e a inteligência coletiva, potenciando o sentimento de pertença e a criação de comunidades.
Tech (Digitalizar): promover a digitalização e outras ferramentas tecnológicas que multipliquem a conectividade, permitindo mais e melhores conversas.
Fonte: Cortés (2021), tradução própria.
No guia “Bibliotecas Hexagonales“, que reúne todo o conhecimento sobre o projeto, os autores explicam que os vetores decodificam os princípios da inovação, tornando-os aplicáveis a qualquer organização ou grupo de trabalho. Ou seja, todos podem utilizar a plataforma para avaliar seu desempenho nos seis vetores e explorar, em maior profundidade, as ferramentas disponíveis.
Ferramentas de autodiagnóstico: como funciona o processo?
No centro da metodologia das Bibliotecas Hexagonais estão as ferramentas de autodiagnóstico, projetadas para avaliar o nível de inovação de bibliotecas e bibliotecários em relação aos vetores do modelo HIP. Essas ferramentas funcionam como um ponto de partida essencial para identificar pontos fortes, lacunas e áreas prioritárias de desenvolvimento.
O processo começa com o preenchimento de dois questionários distintos, um voltado para as bibliotecas como instituições e outro para os profissionais que atuam nelas. Cada questionário contém 18 perguntas objetivas, elaboradas para medir o desempenho em cada vetor. As respostas são rápidas e intuitivas, e o preenchimento é estimado em cerca de seis minutos para bibliotecas e três minutos para bibliotecários.
Após o envio das respostas, a ferramenta processa as informações e gera automaticamente um gráfico polar. Esse gráfico oferece uma visualização clara do desempenho em cada vetor, permitindo uma análise inicial simples e eficaz. Em seguida, um relatório completo é enviado por e-mail. Esse relatório detalha as avaliações qualitativas e quantitativas para cada vetor, traz sugestões práticas para melhorias nas áreas de menor pontuação, inclui exemplos de boas práticas já implementadas em outras bibliotecas e recomenda atividades específicas, como oficinas, eventos comunitários ou ações digitais, para fortalecer os vetores.
Para maior precisão, é permitido a vinculação dos resultados dos questionários das bibliotecas com os preenchidos por seus bibliotecários, utilizando um código gerado automaticamente no formulário institucional. Isso possibilita uma análise integrada, correlacionando a capacidade da instituição com as habilidades dos profissionais, o que enriquece o diagnóstico e orienta ações mais efetivas.
O processo não se encerra com o diagnóstico inicial. As bibliotecas são incentivadas a reaplicar o autodiagnóstico periodicamente, medindo o progresso alcançado e ajustando estratégias conforme necessário. Esse ciclo contínuo de avaliação e aprimoramento garante que a biblioteca esteja em constante alinhamento com os princípios do modelo HIP, promovendo uma cultura de inovação contínua.
Além disso, um kit com 18 metodologias práticas é disponibilizado para auxiliar na implementação das mudanças — transformando ideias em ações e estabelecendo as bibliotecas como verdadeiros ecossistemas de inovação.
Construindo o futuro das bibliotecas
Dias e Pires (2003 apud Oliveira; Cunha, 2019) salientam sobre o valor da biblioteca do futuro:
[…] o valor da biblioteca do futuro não será medido por tamanho, idade e abrangência das coleções, mas sim avaliadas pela força de acessibilidade às interconexões com rede.
Nesse contexto, as Bibliotecas Hexagonais simbolizam um novo paradigma, onde a inovação é sistemática e acessível a todos. O modelo HIP, ao fomentar ciclos contínuos de avaliação e melhoria, posiciona tanto as bibliotecas quanto os bibliotecários como protagonistas de uma transformação institucional e social. Juntos, eles se tornam agentes de interconexão — conectando pessoas, conhecimentos e tecnologias em redes dinâmicas e inclusivas.
Mais do que adaptar-se às transformações digitais, essas bibliotecas assumem um papel estratégico na promoção de aprendizado, inclusão e impacto social positivo. Tornam-se protagonistas na construção de uma sociedade interconectada, reafirmando sua relevância como espaços abertos e inovadores para as comunidades que atendem.