Os filmes da saga de “Missão Impossível” são marcados por cenas de ação energizantes e cheias de adrenalina por uma equipe de agentes secretos que participam de uma agência ficcional do governo norte americano, Força Missão Impossível, onde o personagem central, Ethan Hunt, é abordado com um indivíduo que se mostra fervente por sua causa, acredita fielmente no sistema e se mostra incorruptível.
A representação perfeita de um “herói solitário”, uma ferramenta criada pelo sistema capitalista que luta contra inimigos imensos em nome de um bem maior. Essa figura idealizada reforça a crença de que a salvação virá através de indivíduos corajosos, e não por meio de mudanças estruturais na sociedade, algo que é frequentemente abordado nos filmes desse gênero e nos filmes norte-americanos em geral, concedendo ênfase no recaimento sobre o espetáculo visual e a moralidade individual dos heróis.
O gênero de ação, onde a saga se encaixa, especialmente nos Estados Unidos, tende a ser um espaço para uma válvula de escape, ou seja, onde o público busca diversão e adrenalina. As produções de ação muitas vezes evitam reflexões profundas sobre questões sociais e econômicas como o capitalismo para manter o foco na emoção e no entretenimento puro, com a consequência da alienação.
No filme “Missão Impossível: Nação Secreta” (2015) o então secretário afirma para o primeiro ministro que “Hunt é manifestação do destino”, o personagem é tão focado em derrotar os inimigos em sua volta, que se esquece o verdadeiro vilão, aquele que criou todas essas ramificações de vilania, ele acredita com tanto fervor no sistema que deixa de lado que o real problema é os estabelecimentos de poder na sociedade capitalista, ou seja, a sociedade capitalista como um todo. O capitalismo não é diretamente questionado, o foco está em impedir os vilões ou garantir que as ameaças sejam neutralizadas. Isso pode ser interpretado como uma forma de manter o estado atual, onde o capitalismo e suas dinâmicas de poder continuam a operar nos bastidores. Embora os filmes mostrem corrupção ou motivação por dinheiro, isso raramente é abordado de maneira mais profunda ou como parte de uma crítica ao próprio sistema econômico.
A “autocensura” ou omissão de críticas diretas ao sistema capitalista nessas produções, exibem dois lados de uma mesma moeda, além de levar a alienação do espectadores que por ventura irão assistir aos filmes em busca do já falado escapismo, também, felizmente, é uma forma de produzir aos indivíduos, ás vezes a força, enxergando de fato o que há de errado na sociedade, na esperança que possam parar de procurar um “demônio”.
O idealismo heroico de Ethan Hunt para com o mundo, faz o acreditar que suas ações são justificáveis para o bem maior. O secretário afirma em “Missão Impossível: Efeito Fallout” (2018) que “você não sabe escolher entre a morte de milhões e a morte de uma pessoa” refere ao dilema moral enfrentado pelo protagonista durante a trama. Ele se vê obrigado a fazer escolhas difíceis, onde precisa decidir entre sacrificar uma vida individual ou salvar milhões de outra. O ideais de sacrifícios e lealdade frequentemente pregados podem ser usados para reforçar uma visão individualista, onde a solução para os problemas globais depende da ação de indivíduos heroicos, como já abordado, mas ao invés de uma crítica coletiva ao sistema econômico, que é o verdadeiro causador do sofrimento. Isso pode desviar a atenção de como o sistema capitalista muitas vezes fomenta os conflitos que são apresentados no filme, ou como ele alimenta a perpetuação das desigualdades sociais e econômicas. O filmes também retratam uma aceitação implícita desse sistema. Em vez de abordar diretamente questões críticas sobre o capitalismo, eles simplesmente apresentam os efeitos desse sistema como naturais ou inevitáveis.
As produções focam apenas em um indivíduo heroico que deixa à margem da trama uma reflexão sobre como evitar que as situações de risco surjam em primeiro lugar. Uma transformação profunda das condições que geram esses conflitos, como a crítica ao capitalismo, que não se faz presente da narrativa, deixando o sistema intacto e impune de seus erros, oferecendo uma visão simplificada de como a ordem mundial pode ser restaurada por meio da ação de um herói e não uma mudança em conjunto. A salvação global, então, é frequentemente apresentada como a vitória de indivíduos excepcionais dentro de um sistema que, embora possa ser falho, não é realmente colocado à prova.
A seguir, acesse esses links a respeito de críticas feitas ao filme “Missão Impossível: Nação Secreta” e ao filme “Missão Impossível: Efeito Fallout”, respectivamente:
Crítica | Missão: Impossível – Nação Secreta – Plano Crítico
Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout – Plano Crítico