Muito além do prato: a culinária é cultura e entretenimento

Fonte: autoria própria

A culinária é muito mais do que a simples preparação de alimentos. Ela possui um enorme poder de contar histórias, preservar memórias afetivas e atravessar gerações. Ela é cultura viva. Está presente na mesa das famílias, nas festas populares, é empreendimento comum entre o povo nas comidas de rua e, mais recentemente, virou atração e entretenimento nas grandes competições gastronômicas que se popularizaram nas telinhas. Cada prato, cada tempero, cada modo de preparo carrega consigo um universo de significados que vão muito além da nutrição. Ao mesmo tempo em que nutre o corpo, a comida nutre a alma, a memória e a identidade.

A gastronomia é uma linguagem interdisciplinar. Ela dialoga com a história quando resgata práticas alimentares dos nossos ancestrais e revela como povos e civilizações moldaram seus hábitos à base do que tinham disponível na terra. Dá pra pensar na História do Brasil sem o feijão, o arroz, a farinha e o café? Comer também é contar o passado. Por trás de uma feijoada, por exemplo, há capítulos da resistência escrava no Brasil. Por trás de um cuscuz há a memória nordestina de força e simplicidade. Em cada receita regional mora um pedaço de povo.

Culinária é cultura. É a materialização do que somos, das influências que herdamos, das adaptações que fizemos e dos sabores que aprendemos a amar. Somos ensinados a comer pela família, quem não tem um prato preferido com a “lembrança da mãe”? Falar de comida é, portanto, falar de identidade. É reconhecer que o que comemos diz muito sobre de onde viemos, o que valorizamos e até como enxergamos o mundo e que cultura não está só nos livros ou nos museus, mas também nas mãos que preparam a comida que nos alimenta.

Fonte: autoria própria

Mas, além disso, a culinária é também entretenimento, arte e prazer. Mais do que aprender receitas, buscamos por inspiração, acolhimento e, por que não, uma forma de sonhar. Cozinhar virou um dos hobbies mais comuns do século XXI. É um momento de pausa, de criatividade, de cuidado com os outros e consigo mesma. Não se pode negar o caráter artístico da culinária. A apresentação de um prato, o uso das cores, o equilíbrio dos sabores, a composição visual tudo isso faz da comida também uma forma de expressão estética. Chefs como Paola Carosella e Helena Rizzo são verdadeiras artistas da cozinha brasileira e para além dos pratos elegantes da alta gastronomia é possível ver a arte também nos pequenos gestos do cotidiano: numa marmita feita com carinho ou uma sobremesa com enfeite improvisado.

Não dá para falar de comida sem lembrar de que ela também ensina. É um espaço onde misturamos ingredientes e sentimentos. Onde lidamos com o tempo e com regras, como na vida; esperar enquanto o forno aquece e assa nos ensina a ter paciência, que o preparo já foi feito e que devemos aguardar até que o resultado venha; vibramos com os acertos quando tudo sai perfeito e lidamos com erros e frustrações, como nos pratos que desandam e, com o acolhimento de uma família que ainda assim saboreia, acalenta e diz: na próxima vai ficar melhor, enfim, ensina a valorizar o que temos.

Anailce
Anailce
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