O que vem depois? por Sheila Vale

Algumas histórias não nascem por acaso. Elas nascem do que vivemos, do que sentimos. Está, por exemplo… nasceu de mim. Ou melhor, nasceu de nós.
Quando comecei a escrever Scarlet & Robert queria algo que fosse real: feito de momentos simples, de encontros que poderiam facilmente não acontecer, mas que, por algum motivo bonito, acontecem. Scarlet tem muito de mim e Robert tem muito de Mateus. E por isso, contar a história nos dois lados foi legal fazer. Scarlet é contada por um narrador . Alguém que a observa, e tenta colocar em palavras tudo o que ela é. Já Robert fala por si mesmo.Porque ninguém além dele o vê do lado de fora como ele vê a Scarlet. Ele não é observado ,ele é aquele que observa. Escrevi essa história porque, às vezes, a vida nos presenteia com alguém tão oposto que nos completa. Mateus é assim (momento fofo). E Scarlet e Robert nasceram no espaço entre nós dois. Espero que, ao ler, você se veja em algum canto dessas páginas.

Com amor, Sheila Vale

Coincidências

A maioria das pessoas que Scarlet amava na sua vida, ela conheceu na escola. Foi lá que suas memórias mais vívidas nasceram: risadas no intervalo e na aula, fic com as amigas e muita palhaçada com todo mundo da sala. Ali também que ela conheceu Robert ,embora, na época, mal trocaram palavras.

Ele era o garoto quieto, inteligente e tímido, que sempre sentava nas primeiras cadeiras, conversando com seus poucos amigos ou resolvendo questões difíceis. Scarlet? Aproveitava cada fase da adolescência com intensidade, respeitando seu próprio tempo. Nunca teve pressa para namorar.

A vida seguiu. Os dois cresceram, os gatos da Scarlet aumentaram, e, por muitos anos, passaram pelas mesmas ruas do bairro sem sequer saber que estavam tão perto. Frequentaram as mesmas escolas, os mesmos lugares e, por ironia do destino, até suas mães já se conheciam. Mas nada disso foi suficiente para que eles se notassem… até agora.

Veio a pandemia, e com isso vários novos sentimentos que Scarlet ainda não sabia. Coisas importantes desmoronaram , e de repente o chão que ela tanto amava pisar lembrava do tempo que ela costumava ser feliz . Foi então que Robert apareceu, ou melhor, surgiu de verdade pela primeira vez. Eles começaram a conversar, até que a timidez dele foi dando lugar a uma presença constante. E Scarlet, que nunca se sentiu sozinha consigo mesma, começou a perceber que havia espaço para mais alguém em seu mundo.

—  É sempre bom te ver — ela afirmou, depois de chegarem do cinema — O filme tava uma merda, mas foi legal. — sorriu, do outro lado da tela.

— Foi melhor que o primeiro filme que assistimos juntos? — perguntou com ironia.

— Com certeza! A gente é péssimo para escolher filme— respondeu ela, lembrando do filme Thor: Amor e Trovão que assistiram no seu primeiro encontro,

Scarlet entendeu que o amor às vezes se esconde por anos, esperando o momento certo mesmo que esse momento venha em meio a uma bagunça.

Porque a vida, bem… ela é engraçada.

Um amor que nunca foi (até ali)

Três anos se passaram desde aquele reencontro. Scarlet e Robert já não eram apenas dois nomes que passaram pela mesma escola e frequentaram os mesmos lugares agora eram história viva um do outro.Às vezes, Scarlet ficava reflexiva. E se tivessem se encontrado de verdade ainda adolescentes? Como teria sido acompanhar Robert em todas as suas fases, suas primeiras descobertas pelo mundo da tecnologia, seus dilemas, seus medos disfarçados de silêncio. Ela se apegava, de vez em quando, ao que não foi. Não por arrependimento, mas por pensar no desperdício de algo que não aconteceu.

— É engraçado… — dizia ela, brincando com os dedos entrelaçados aos dele, enquanto argen passeava na barriga do Robert — eu queria ter visto o menino que você foi antes de se tornar você.

Robert, sorria meio envergonhado, como sempre fazia quando se sentia exposto. E dizia algo do tipo:

— Talvez se a gente tivesse se encontrado antes, não teria dado certo.

E Scarlet sabia. Sabia que ele tinha razão. Mas o coração às vezes gosta de imaginar o que não viveu, só pra doer um pouquinho bonitinho. Hoje, as discussões entre eles já não eram mais sobre quem mais ganhou brinquedo ou histórias da infância. Agora, eles sonhavam juntos. Riam alto imaginando como seria o filho deles. Um pequeno gênio de personalidade extrovertida e um cérebro brilhante ,uma mistura super fofa de Robert e Scarlet.

— A escola vai sofrer — ela dizia.

—  MEU DEUS — completava ele, rindo.

Scarlet continuava a rir com ele, a amá-lo com todas as versões de si que foi ao longo dos anos. Porque, mesmo que  tenha acontecido vários desencontros ,o presente era a certeza.

 – versão Robert

Scarlet? Sim, eu me lembro bem dela. Ela era uma garota incrível, estava sempre rodeada de amigos, rindo alto. Ninguém tinha a mesma energia que ela. Era única. Pra ela, a vida era intensa, as coisas eram simples. Nunca entendi como era ser assim. Nunca fui de estar no meio do caos, de interagir. Minha vida se resumia a cálculos. Tudo era traduzido em alguma função. Era tudo um jogo que eu precisava entender os padrões. Puxar assunto era uma variável que nunca dava um resultado bom. Sempre gerava algo inesperado. A função quebrava. Eu sabia que ela estava distante do meu mundo. Ela era incalculável, imprevisível. Houveram poucas interações entre a gente. Eu era um clandestino nas conversas. Nunca diretamente, sempre uma consequência, um efeito colateral. Mas tudo bem. Os anos passaram. Mais estudos, mais cálculos pra resolver, mais padrões pra decifrar. Eu acho que amadureci, mas não mudou muita coisa. Morava no mesmo bairro, gostava das mesmas coisas e percorria o mesmo caminho. Mal sabia eu que esse caminho também era o dela.

A garota que, mesmo compartilhando de tantos fatores comigo — de ter ido pra mesma escola, de ter tido amigos em comum, de nossas mães se conhecerem — a garota imprevisível… nunca achei que algo aconteceria. E eu estava certo. Ou pelo menos era o que eu acreditava. Foi preciso uma pandemia, o colapso do mundo lá fora  para que, finalmente, a vida nos colocasse frente a frente. A Scarlet surgiu na minha vida no momento mais inesperado. Pra ela, talvez eu tenha chegado como um respiro em meio à dor. Mas a verdade é que ela também me salvou, mesmo sem saber. Eu me sentia meio idiota às vezes, tentando acompanhar o ritmo dela, a energia dela, o jeito como ela mergulhava em tudo de cabeça. Mas aos poucos, fui percebendo que ela não esperava que eu fosse igual. Ela só queria que eu fosse eu.

— Você me salvou ou me encontrou? — ela perguntou um dia, com aquele jeito meio risonho e sério ao mesmo tempo.

Eu pensei.

— Os dois, né? — ela mesma completou sorrindo, me poupando do esforço.

E era isso. Tão simples.

O mais bonito de tudo foi entender que a Scarlet, aquela garota que parecia pertencer a um mundo que não era o meu, estava, na verdade, destinada a invadir o meu, ela também me ensinou que amor de verdade não tem urgência. Hoje, olho pra trás e penso: quem diria? Que aquela menina que eu só observava de longe seria a mulher que eu amaria com tanta verdade. A vida tem um jeito estranho de fazer as coisas acontecerem. Mas quando acontece, a gente entende: valeu a pena.

 – versão Robert part. 2

— A escola vai sofrer — ela dizia.
— MEU DEUS — eu completava, rindo.

Às vezes, quando a gente está ali, no meio do silêncio confortável, eu sinto que tudo isso parece um sonho. Como se, de algum jeito, a Scarlet estivesse olhando para o nosso futuro. Vendo essa mistura de risadas, planos, filhos e amor que ainda estava por vir. E mesmo que, lá no fundo, ela quisesse evitar, impedir ou mudar alguma coisa, sabia que não poderia. Porque o destino, por mais que a gente tente controlar, tem seu próprio tempo — e ele sempre dá um jeito de fazer tudo acontecer.

Naquele momento, talvez eu nem estivesse ali de verdade. Talvez fosse só uma imagem do futuro que Scarlet estava tendo — uma premonição boa, silenciosa como se Deus mostrasse um pouco do que preparou para nós, que a surpreendia tanto quanto vai surpreender você agora, que lê essas linhas.Scarlet continuava a rir comigo, amando todas as versões dela mesma que o tempo moldou. Porque, apesar dos desencontros, a única certeza que importava era essa: o presente era nosso.

Sonho ou premonição?- final

Scarlet acordou com o coração acelerado. Não lembrava do sonho, mas ficou com a sensação de que tinha visto alguma coisa — como um futuro embaçado, mas bom. E por um instante, ela sentiu que sabia exatamente para onde aquilo ia.

Olhou o celular.

Mensagem de Robert:

“Cheguei no shopping. Tô te esperando .”

Ela respondeu com um emoji apressado, se arrumou rápido, e murmurou para argen que olhava pra ela com aqueles olhinhos sempre assustados.

— É só um amigo. Só um encontro casual. Para de nervosismo.

Mas uma parte dela — aquela que sente antes de entender — já sabia.

E que, mesmo se quisesse, não poderia evitar.

Quando chegou, lá estava ele,Robert,que estava tão alto quanto ela se lembraria.

Em pé, com aquele sorriso tímido, igual ao que ela lembrava da escola.

Ela sorriu de volta. E ali, só naquele olhar, viu tudo:

os dias, os domingos preguiçosos, as conversas intermináveis, o amor crescendo devagar.

Era como se tivesse olhado o futuro.

E, ao contrário das premonições que vêm como alerta, essa vinha como promessa.

— Vamos? — ele perguntou.

— Vamos — ela respondeu. E entraram juntos no cinema.

O filme? Thor: Amor e Trovão.

Mas Scarlet já sabia:

O amor já estava ali.

Esperando.

Quieto.

Paciente.

Pronto pra acontecer

Sheila
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