Os Sistemas de Recomendação como ferramenta de acesso a informação na era do big data

Fonte: implantandomarketing.com

Nessa era inundada por dados “você quer escolher e ter poder sobre as informações que você quer receber?” Bom, essa pergunta foi proferida pelo cientista de dados Ricardo Cappra na sua palestra para o TEDx Talks, e faz muito sentido nessa era do Big Data e principalmente da infoxication que traduzida, quer dizer sobrecarga de informação e está relacionada com a quantidade excessiva de informações a qual somos submetidos diariamente e as nossas dificuldades em selecionar as que são realmente relevantes para nós.

É nesse cenário de grande volume de dados (informações) que são produzidos a todo momento, que surgem os sistemas de recomendação, concebidos como modelos computacionais compostos por um conjunto de técnicas e algoritmos que selecionam e indicam itens (livros, filmes, músicas, vídeos, produtos, informações, etc.) com base nos dados de interação e interesse dos usuários. Certamente você vivência essas experiências diariamente, auxiliado por algum algoritmo para concretizar alguma tarefa, e me refiro não só ao mundo virtual, mas fora dele também. Ao atravessar uma avenida movimentada você está executando um algoritmo, ao selecionar uma música no Spotify ou um vídeo no Youtube, também. Algoritmos são sequencias finitas de instruções, bem definidas e não ambíguas devendo ser executadas mecânica ou eletronicamente em um intervalo de tempo e esforço finito, simplificando, não passa de um passo a passo para realizar uma tarefa ou solucionar um problema.

Os modelos computacionais são fundamentais na produção de conhecimento e contribuem de maneira significativa para a “organização, pesquisa e compreensão das vastas quantidades de informação disponível”. É nesse sentido que toda informação digital passa pelo crivo decisório de um algoritmo e devemos questionar a relevância das informação selecionadas e indicadas, pensar as questões acerca dos impactos sociais, as implicações éticas e neutralidade desses mecanismos computacionais na filtragem e seleção da informação.

Não quero aqui e nem cabe a mim tachar o algoritmo computacional como vilão (antes enaltecê-lo como uma importante ferramenta na filtragem e seleção da informação) nessa era de grande volume de dados e sobrecarga de informações, mas levantar questões envolvidas no processo de construção e uso desses mecanismos, principalmente pelas grandes corporações que muitas das vezes não atuam de maneira transparente na divulgação de (des)informações.

Recentemente tivemos o boom das fakenews as quais segundo estudos tiveram alguns impactos sociais nos principais eventos políticos de grande importância dos últimos anos como a saída do Reino Unido da União Europeia – Brexit, as eleições dos Estados Unidos em 2016 e a do Brasil em 2018. Nos dois primeiros casos esses estudos comprovaram que a empresa Cambridge Analytica utilizou mecanismos para capturar dados dos usuários do Facebook e utilizou esses dados para traçar perfis de forma inteligente e fazer indicação de informações relacionadas aos eventos, em sua maioria informações de cunho preconceituoso, incitação ao ódio e inverdades.

Fonte: Media lab

No entanto, os sistemas de recomendação são construídos a partir de interesses privados os quais estão mais preocupados com o engajamento dos posts do que os impactos que as publicações podem causar. Em algumas situações é evidente que as notícias falsas e sensacionalistas geram maior engajamento em relação as verdadeiras, e são essas que são propagadas com maior intensidade e em diferentes canais de divulgação no meio digital. Esses sistemas também acabam nos prendendo em nossas próprias bolhas sociais, nos dando mais do mesmo, reforçando nossos interesses e nos privando da diversidade.

Em vez de nos isolar em bolhas, esses sistemas além de nos proporcionar mais do mesmo, deveriam também abrir porta para a diversidade e acredito que isso só será possível se houver a emancipação desses da política neoliberal presente no mundo virtual, onde o click dita o que é mais relevante, o que o usuário vai ver, o que vende mais, independente do conteúdo informacional. Pra isso, a tecnologia precisa trabalhar a construção dos algoritmos a partir de uma visão de senso de vida pública, preocupando-se em integrar os interesses dos indivíduos ao mesmo tempo que promove a diversidade e transparência.

Precisamos de transparência e responsabilidade tanto por parte das grandes instituições e seus desenvolvedores quanto por parte dos usuários. Há a necessidade de se formar consciência analítica, ensinar aos usuários as responsabilidades tanto no ato de fornecer dados quanto de compartilhar informações.

A expectativa é que daqui pra frente, com os avanços tecnológicos, principalmente na área da informação, o mundo se torne muito mais analítico onde de acordo com Cappra vão existir dois tipos de ser humano: o que pode aprender e escolher a informação que quer receber e o que vai receber as informações que um outro alguém escolher. E então, você quer escolher suas próprias informações ou esperar que alguém faça essa escolha por você?

William Silva
William Silva
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