Um dos processos mais importantes no início do desenvolvimento das relações sociais na fase infantil é a comunicação, seja por meio da fala ou gestos, mas para isso é necessário que a criança saiba decifrar e compreender os signos apresentados a ela e que posteriormente serão absorvidos pela mesma em um processo de apropriação cultural fundamentado no meio em que ela encontra-se, gerando assim um processo pautado na assimilação através da interação com os objetos a sua volta, analisando-os e compreendendo-os e por fim, ligando o objeto ao nome.
Desde muito cedo (entre 9 meses a 2 anos de idade) bebês tendem e são incentivados a falar, entretanto, um vocabulário é constituído por palavras, conceitos e pronuncias excessivamente complexas para uma mente ainda em desenvolvimento, mas o estimulo a fala é constante e incessante visto que o ser humano é um ser social, estamos em comunicação uns com os outros o tempo todo, e para a criança que está aprendendo a falar há também uma necessidade de se expressar por meio das palavras, o choro e os balbucios não mais suprem suas demandas comunicacionais.
Mas e o Pokémon, onde se encaixa nisso tudo? Pokémon é um dos maiores sucessos da desenvolvedora de jogos Nintendo e uma das franquias mais conhecidas em nível mundial, seja pelos seus jogos, mangás, filmes ou anime, possuindo como marca registrada um monstrinho amarelo de bochechas vermelhas semelhante a um roedor, e que com certeza você conhece, o pikachu, que assim como o charizard, é um dos Pokémon mais amados pela comunidade. Uma curiosidade é que o protagonista do anime recebeu o mesmo nome do criador de Pokémon, Satoshi. No Brasil, assim como na maioria dos países, o protagonista do anime recebeu o nome de Ash, entretanto, Ash é protagonista apenas nos animes e nos filmes da franquia, ficando ao mangá e aos jogos o protagonismo de diferentes personagens a cada novo arco ou temporada.
Inicialmente Pokémon foi apresentado através de dois jogos red e blue no ano de 1996, produzido por Satoshi Tajiri, lançados para Game Boy e desenvolvidos pela Game Freak, já o mangá e anime, ambos lançados em 1997 que se encarregaram de proporcionar a fama de Pokémon que se vê até hoje, independente da mídia.
Agora sim, onde Pokémon se encaixa no processo de alfabetização e letramento infantil? para melhor esclarecer é necessário analisar a imagem abaixo.
Até o momento não se sabe se essa pesquisa realmente existiu, porém, para além da intencional “pegada” cômica, é no mínimo curioso pensar que talvez sim, crianças (levando em consideração o ano da “pesquisa”) conheçam mais nomes de Pokémon do que de animais reais e que, logicamente um cachorro não vá latir “cachorro… cachorro”, animais reais não gritam seus nomes, diferente dos Pokémon.
A criança na fase de alfabetização ou letramento ainda não possui a complexidade na fala para dizer que um cachorro é um cachorro, ela diz que é um “au au”, isso ocorre dado ao fato de que a criança possui o discernimento para associar o latido a imagem do animal em questão, que é de fato um cachorro, mas ela nao consegue ainda falar “cachorro”, tanto pela complexidade da palavra para os anos iniciais, ausência da repetição do nome do animal e também em alguns casos, os responsáveis induzem também a utilizar “au au” para se referir ao animal. Ante a esses fatores pode haver também uma desordem cognitiva em identificar um cachorro devido as mais variadas raças e latidos. AÍ QUE ENTRA POKÉMON!
Enquanto a imagem de uma animal não condiz com os sons que emitem, os Pokémon em sua esmagadora maioria, sim. Um bulbasaur(o), por exemplo, “fala” “bulbasaur” e ainda dependendo do contexto, da sua emoção ou da forma de comunicação as “palavras” podem variar, “bulba bulba”, o mesmo ocorre com o pikachu, este com um vocabulário ainda mais extenso e expressivo, que de fato apresenta à criança uma proposta muito mais atrativa a fala em relação a separações silábicas, os diferentes sons que uma mesma letra possui, interpretação de gestos e expressões, recursos para além da oralidade.
Aqueles “bichinhos engraçadinhos” “falam” seus nomes e comunicam-se uns com os outros e com as pessoas utilizando um vocabulário próprio. A assimilação de uma clefairy com o nome “clefairy” se dá devido que a clefairy “fala” “clefairy”. Quando se esta assistindo atentamente a um episódio do anime ou filme e… eis que surge um “pato amarelo segurando a cabeça”, caso não se saiba ou se esqueça do nome do Pokémon , geralmente busca-se “adivinhar” ou lembrar do seu nome partindo de referencias em sua aparência, não funcionando, tenta-se as letras iniciais e quando menos se espera o Pokémon grita “PSYDUCK“. Se para um adulto o estimulo visual gerado pela referencia de um Pokémon inspirado em um animal que já existe na natureza possui um impacto considerável, para a criança perceber que aquela criatura emite sons ou palavras que permitam identificar seu nome tem um impacto ainda maior. É importante destacar que a “fala” dos Pokémon se limitam aos animes e filmes, em algumas raras exceções a jogos, no mangá aparecem algumas.
Atrelado aos fatores expostos que maximizam e contribuem para que a criança em fase de alfabetização consiga explorar a linguagem fornecendo a ela um suporte maior em relação a assimilação e pronuncia, Pokémon propicia também uma imersão cultural em decorrência do vocabulário, pois, os locais em que atrama do anime se passa permeiam por idiomas e costumes de diversos países. Ainda que o anime se desenvolva em locais fictícios e seja dublado em português, o anime de Pokémon é bem marcado por idiomas como inglês e japonês, o que pode ser identificado facilmente nos nomes dos Pokémon dada a sua morfologia, o que auxilia também a criança no incentivo a aprendizagem de um novo idioma e, mesmo que de forma indireta, a criança tem a capacidade de perceber que aquele nome não é comum do seu cotidiano, sendo bem diferente do português aprendido no inicio dos seus primeiros anos.
Em virtude da pouca idade, a fala das crianças em fase de alfabetização ainda é reduzida, assim como seu vocabulário, mas não sua percepção dos seus arredores e a capacidade de associar objetos, pessoas, lugares e animais e linkar suas semelhanças ou diferenças, e sim, apresentar a elas algo diferente como Pokémon pode trazer benefícios educacionais, cognitivos e sociais. Nesse sentido a proposta de Pokémon não gira entorno apenas dos animes e filmes que podem e devem ser utilizados como ferramenta que auxiliam no letramento, mas aliados a eles, jogos educativos com imagens dos Pokémon, e em idades mais avançadas, apresentar jogos também da franquia como os Tradring Card Games (TCG) ou jogos virtuais que possuem uma variedade de consoles, emuladores ou mobile, de modo que as batalhas Pokémon não apresentam violência explicita, morte, ou ferimentos e são baseadas na lógica de vantagens e fraquezas tanto das criaturas quanto dos seus ataques que modificam-se em virtude da sua tipagem, que atualmente são 18, podendo ocorrer que um Pokémon possua até duas tipagens, (na atual geração um Pokémon pode adquirir uma terceira tipagem, mas no momento não convém explicação visto que o assunto principal não é este) o que modifica totalmente o calculo de dano que um Pokémon irá receber ou causar, levando a criança que já está em uma fase mais avançada de aprendizagem a utilizar um pensamento rápido e coerente para compreender as variáveis de cada tipo e ataque dos Pokémon e como eles se comportam em diferentes situações, estimulando o raciocínio lógico, a memória dentre outros benefícios cognitivos.
Ao contrario da pesquisa que foi citada, um outro estudo foi realizado com o intuito de analisar a atividade cerebral de dois grupos de pessoas através de imagens, sendo uma das imagens um Pokémon. Foi submetido ao teste um grupo que teve contato com Pokémon durante a infância e outro que não, após os dados coletados, analisados comparados ambos estímulos cerebrais dos dois grupos, os resultados obtidos foram expressivos. Para mais informações sobre o estudo acesso o link.
Pokémon foi, e é para muitos um dos animes mais importantes e conhecidos transmitidos pela televisão aberta, conquistando fãs de todas as idades em todas as partes do mundo, os monstrinhos não apenas fizeram a alegria de gerações como também serviram de estimulo educativo, mesmo que em épocas mais remotas ou ate atualmente, os Pokémon sejam relacionados com figuras malignas, o que de fato não são. Embora algumas inspirações de design de Pokémon tragam diferentes culturas em seus conceitos artísticos, nada ruim ou nocivo deve ser relacionado com Pokémon, podendo ser utilizado nas escolas ou ambientes familiares como uma forma paralela ou informal de alfabetização, letramento. e incentivo a leitura. E para finalizar…
Pi pikachu!!!