Quem sentará no Trono do Sol?

É com essa frase que adentramos o mundo de Nessântico: uma cidade que, segundo o próprio autor, se tivesse sexo, seria mulher. Nessântico é orgulhosa, nasceu sobre as plácidas águas do rio A’Sele e, aos poucos, conquistou cidades ao seu redor, formando assim o império dos Domínios.
Nessântico é governada por uma mulher, a kraljica (imperatriz) Marguerite ca’Ludovici, que está prestes a passar o reinado para o seu filho. Entretanto, nem tudo poderá sair como ela planeja. Sob as sombras da cidades, traidores se erguem para matá-la e retirar o archigos, líder máximo da Fé Concénziana e aliado da kraljica, de seu posto.

Nessa rede de intrigas encontra-se a jovem Ana co’Seranta, uma sacerdotisa com incríveis habilidades na magia chamada de Ilmodo, que será usada como peça nesse imenso jogo, onde é cada um por si. Além disso, uma força rebelde se aproxima da capital dos Domínios para destruí-la de uma vez, aliado à um fundamentalista rebelde da Fé.

O interessante de O Trono do Sol é seu vasto mundo. À primeira lida, o leitor pode estranhar alguns aspectos interessantes dessa obra, como o idioma. Quanto a isso, Farrell nos proporciona um dicionário não só com significados, mas com as pronúncias corretas. Palavras como “mamãe” e “papai”, por exemplo, viram “matarh” (MAH-tarr) e “vatarh” (VAH-ter) respectivamente. Além de termos um apêndice com mapas, histórico de Nessântico, personagens e etc.

O Trono do Sol trata-se de uma disputa política ligada à religião e à magia. Diferente de muitos livros de fantasia medieval, este se enquadra mais às perspectivas de um final nada agradável, ou como muitos (inclusive eu) preferem, um final agridoce. Portanto, nada de se apegar às personagens.
À primeira vista, é inegável a comparação com outra grande obra: As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin. Entretanto, deferente dessa obra, a história se fecha em três livros (todos já publicados pela LeYa), havendo saltos de tempos entre eles. Até o presente momento, não há nada que mostre que Farrell amplie ainda mais a história, diferente de Martin. A forma de escrita também é mais “leve” e de fácil compreensão sem exigir muito do leitor. Em síntese, bem simples.

Lançado pela primeira vez em 2007 nos Estados Unidos, aqui no Brasil começou a ser publicado em 2012. Contudo, a repercussão não foi tão grande assim, visto que no mesmo ano chegava nas estantes livros como: Jogos Vorazes, de Suzanne Collins; A Escolha, de Nicholas Sparks; e Cinquenta Tons de Liberdade, de E. L. James. Apesar disso, O Trono do Sol (em sua trilogia) mostrou-se bastante empolgante para a boa parte dos leitores. “Fascinante!”, “Incrível!”, “Épico!”, resumem o que se sente ao lê-lo.

O que também torna essa obra formidável, é o fato de discussões no nosso mundo se aplicarem de forma coesa em Nessântico: nada é um conto de fadas. Guerras, fomes, casamentos, traições, qualquer pessoa está sujeita à preconceitos, abusos, amor, amizade. As personagens são humanas e, por isso, sujeitas às falhas, por isso o fato de não apegar-se à elas. Você pode torcer por ela, e no final nada acontece. Isso quebra paradigmas e clichés vistos em muitas obras, todavia, esta é para adultos.

Saber quem vai sentar no Trono mais cobiçado dos Domínios é um mistério, um imenso jogo de xadrez onde você não sabe se fulano ou cicrano é um jogador ou uma peça. Com pontos de vistas diferentes, sabemos as reais intenções das personagens (até mesmo aquelas que aparecem apenas uma vez), e isso também faz a história ser mais compreendida.

E então? De qual lado você estará nessa guerra? Em quem você poderá confiar? Leia, adentre Nessântico, descubra… e tenha cuidado. MUITO CUIDADO!