Museu do Negro – Cafua das Mercês

Cafua vem de um dialeto africano mais precisamente dos povos Bantos tendo como tradução caverna ou lugar escuro, Mercês vem do português de Portugal traduzindo-se: misericórdia, em uma tradução geral do nome deste lugar temos: Caverna ou lugar escuro da misericórdia.

Situado na rua Jacinto Maia, centro histórico da cidade de São Luís este lugar tem uma estrutura em estilo colonial, com uma fachada uniforme, com apenas uma porta principal, cercada por seteiras, sendo as únicas aberturas de luz e ventilação do prédio, indicando o lado mais perverso da escravatura. Tem somente dois pavimentos, com um compartimento cada.

Observando seus dados documentais este sobrado tem seus primeiros registros no século XVIII, sendo seu primeiro proprietário António Bernardo Garrett.

“Após António Garrett ficar viúvo e já quase com 70 anos de idade, ele resolveu mudar de vida, trocar de atividade (…) e foi investir no Maranhão, no inicio da Amazónia brasileira (na época Amazónia portuguesa) Foi investir no tráfico de escravos”

Garret além de ser um comerciante de escravizados também contrabandeava os mesmos através da sonegação de impostos e é por esse fato que a localização da casa é escolhida, pois bem perto havia uma espécie de trapiche, local ideal para desembarcar e esconder suas “mercadorias” de forma rápida. Com a pouca ventilação do local e o grande acúmulo de pessoas muitos vinham a falecer, sendo muitas vezes enterrados pelas redondezas ocasionando um odor muito forte, vindo a incomodar a vizinhança e assim logo sendo denunciado.

Vindo então o local a ser descoberto como um depósito de escravizados pois ali eles só passavam as noites, pela manhã eram expostos em praças públicas para serem comercializados.

Vista de uma das seteiras do espaço.

Apesar de um contexto histórico bem pesado, o governo do estado no ano de 1970 compra o sobrado e dois anos mais tarde inaugura como Museu do Negro – Cafua das Mercês pois tem o entendimento que por essas portas obteve-se a entrada em massa da população africana integrando-se a população maranhense, observando-se que os números de António Garrett enquanto pessoas trazidas escravizadas de África para solos maranhenses eram bem altos para uma viagem com duração de aproximadamente seis meses.

Hoje o acervo do museu conta com uma primeira parte que retrata o continente africano antes da chegada dos europeus, no qual observa-se uma África em 80% das suas comunidades matriarcais, tendo peças que falam sobre a mulher enquanto hierárquica, divina e ancestral. Peças essas que são divididas em vasos cerimoniais , totens, mascaras e elementos de hierarquia que retratam também a pluralidade de etnias, dialetos, cultura e costumes.

Mascaras africanas de algumas etnias.

Na segunda parte do acervo que fica no compartimento superior observa-se roupas, adornos, instrumentos de percussão dentre outras peças que contam a história do Tambor de Mina, uma religião afro-maranhense. Tendo suas duas primeiras casas ainda sido fundadas no período escravocrata sendo elas Casa das Minas (rua São Pantaleão) e Casa de Nagô (rua das Crioulas) ambas situadas no bairro da Madre Deus na cidade de São Luís.

Gravação de entrevista no salão superior do museu

Sendo este museu um espaço de memória e valorização dos povos pretos, de luta por ocupação de espaços e resistência. hoje este espaço recebe visitas de turistas de outros países, estados brasileiros, municípios maranhenses e até mesmo visitantes locais. Que vem saber um pouco mais sobre sua história e ancestralidade.

Sendo muito procurado também para gravação de documentários, entrevistas e até vídeo clipes de artistas. O museu do negro cumpre seu papel social de dinamizador cultural assumindo pautas importantes que jamais poderão ser apagadas da história.

Faça um tour online em: https://www.youtube.com/watch?v=-fSJpYcZ-LM

Referências:

LUSA. António Bernardo o tio-avô de Almeida Garrett que era traficante de escravos, sábado 18 anos, 2019. Disponível em: https://www.sabado.pt/vida/detalhe/antonio-bernardo-o-tio-avo-de-almeida-garrett-que-era-traficante-de-escravos

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