Resumo do artigo “Do Códice ao Monitor: a trajetória do escrito.”

Pretende-se detectar e designar os efeitos da revolução que dissocia a ideia do livro apenas ao papel, faz um estudo dos textos e seus suportes. Para situar a atual revolução do livro (livro digital) quanto às características, faz uma apresentação das revoluções da escrita ocorridas anteriormente

A primeira revolução trata-se da técnica (século XV), a multiplicação e produção de textos deixou de ser somente cópia manuscrita com o surgimento da imprensa e os caracteres móveis. Não há alteração da estrutura do livro, seu formato, forma de ler, etc., embora tenha facilitado a sua produção, o livro impresso ainda é dependente do livro manuscrito até aproximadamente 1530. No Oriente os caracteres móveis já eram usados antes da invenção de Gutenberg, na China (século XI) os caracteres eram feitos de argila cozida e na Coreia (século XI) eram caracteres metálicos. Trata-se de uma revolução do modo de reprodução do texto.

A atual revolução não é tão somente do modo de reprodução como foi a da imprensa, é uma revolução até mesmo da estrutura do livro e sua forma de suporte. O autor busca na história uma revolução mais semelhante com a do livro no monitor.

Houve também mudanças quanto ao estilo de leitura. Aplicou-se a leitura silenciosa durante a Idade Média restrita os scriptoria monástico (entre o século VII e XI) e mais tarde (século XII) às escolas e universidades. Outra mudança foi quanto a leitura (segunda metade do século XVIII) foi da leitura intensiva para a qualificada extensiva, em  que o leitor, diante da variedade de livros disponíveis, não se prende a apenas um livro. A revolução do século XVII é uma revolução da leitura.

   Essa mudança de suporte de leitura para o digital também é uma revolução de leitura, pois há diferenças da relação livro e leitor quando se trata de um livro digital. Embora esteja mudando também a forma de ler, técnicas para a reprodução do texto, criando novas relações com o texto e a estrutura fundamental do livro esteja se modificando, a revolução atual é principalmente do suporte e formas de transmitir o escrito. Chartier busca na história uma revolução semelhante e afirma só existir aquela que fez a mudança do Volume pelo códige (século II aproximadamente), alteração do livro em forma de rolos para cadernos juntos.

   O uso do códice ofereceu alguns confortos para manusear o texto como a possibilidade de ler o livro utilizando somente uma mão, o que não é permitido com o rolo impossibilitando ler e escrever ao mesmo tempo (motivo da leitura em voz alta) e algumas economias como permitir escrever frente e verso, permitindo mais texto em um volume menor. Torna-se mais fácil buscar determinadas passagens em um texto pelo seu formato e o novo uso de índices, características que se mostraram muito úteis para o uso de textos. O novo suporte (códice) foi primeiro utilizado por grupos fora da “elite culta”. Embora tenha se alterado o formato do livro, ainda utilizavam nomenclaturas do formato anterior.

   As características da fase de mudança do rolo para o códice muito se assemelham à revolução do eletrônico, tendo em vista que os livros digitais permite que o leitor armazene dezenas de livros na memória de um celular que pode ser facilmente transportado e manuseado para leitura, oferece economias em sua produção. Muda também a relação do texto com o leitor, uma vez que o suporte digital oferece ferramentas que permite fazer anotações e realces no texto e outra alterações sem prejudicá-lo. Facilita ainda mais a busca de passagens específicas no texto com o uso de ferramenta de busca por palavras. O texto em sua forma eletrônica não possui localização, não possui volume físico, isso torna mais próximo a ideia de uma biblioteca Universal, um lugar que reúna todo o conhecimento registrado ainda que seja de forma eletrônica. Outro ponto que ganha atenção é o resgate deste documento: em meio eletrônico, qualquer pessoa, em qualquer lugar tendo minimamente o acesso à Internet e um suporte pode resgatar qualquer obra.

   Mudar de um suporte para um novo não quer dizer abandonar o anterior e tampouco os escritos do formato. Vale uma versão de texto que originalmente é em formato de códice para o formato digital, por exemplo. No caso na revolução digital, é importante que não abandonemos por completo o escrito (códice). Cada suporte de escrita tem seu valor histórico, sua importância para a constante evolução e surgimentos de outros.

   Assim como durante a transição do rolo para o códice os dois foram utilizados para objetivos diferentes, os textos de um foi copiado para o novo formato, está acontecendo com o surgimento do livro no monitor. As bibliotecas físicas não deixariam de existir com o surgimento das Bibliotecas virtuais visto que, todo o material impresso produzido durante vários anos não iriam simplesmente deixar de existir ou seriam destruídos para existir apenas online. As bibliotecas devem ser também um local de guarda dos suportes que ajudaram na continua evolução da escrita e leitura até chegar ao monitor.

CHARTIER, Roger. Do códige  ao monitor: a trajetória do escrito. Estudos Avançados, São Paulo, n. 21, v.18, maio/ago. 1994. DOI 10.1590/S0103-40141994000200012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000200012. Acesso em: 11 mar. 2021.

Sara Rodrigues
Sara Rodrigues
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